ESCOLAS LITERÁRIAS

Brasilidade: Do romantismo ao modernismo

A busca pela identidade nacional brasileira tem sido uma jornada complexa e multifacetada, atravessando diferentes períodos literários e movimentos culturais. Essa busca, que podemos denominar como “brasilidade”, representa um conjunto de características, valores, símbolos e expressões que juntos formam a essência do que significa ser brasileiro. Do Romantismo ao Modernismo, a literatura brasileira tem sido um campo fértil para a exploração e construção dessa identidade nacional.

Este artigo propõe uma análise aprofundada do conceito de brasilidade e sua evolução ao longo de três obras fundamentais da literatura brasileira: “Iracema” de José de Alencar, representante do Romantismo nacionalista; “O Cortiço” de Aluísio Azevedo, expoente do Naturalismo brasileiro; e “Macunaíma” de Mário de Andrade, obra-prima do Modernismo. Cada uma dessas obras, em seu respectivo contexto histórico e estético, apresenta uma visão particular sobre o que constituía a identidade brasileira, refletindo as transformações sociais, políticas e culturais do país.

O conceito de brasilidade: Uma identidade em construção

Definindo brasilidade

A brasilidade pode ser entendida como um conjunto de elementos que compõem a identidade cultural brasileira. Trata-se de um conceito dinâmico e em constante transformação, que engloba aspectos como:

  1. Diversidade cultural: A miscigenação étnica e cultural que formou o povo brasileiro, resultando em uma sociedade plural e heterogênea.
  2. Elementos naturais e geográficos: A exuberância da natureza brasileira, com sua fauna e flora diversificadas, que sempre exerceu fascínio e serviu como símbolo de identidade nacional.
  3. Língua portuguesa brasileira: A variante brasileira do português, com suas particularidades lexicais, fonéticas e sintáticas, que reflete a história e as influências culturais do país.
  4. Práticas culturais e sociais: Manifestações artísticas, religiosas, culinárias e comportamentais que caracterizam a sociedade brasileira.
  5. Valores e visões de mundo: Formas particulares de interpretar a realidade e de se relacionar com o mundo, que se expressam no chamado “jeitinho brasileiro”, na cordialidade, na musicalidade, entre outros traços.

A brasilidade como projeto

É importante ressaltar que a brasilidade não surge espontaneamente, mas é construída ao longo do tempo através de projetos intelectuais, políticos e artísticos. Desde a independência do Brasil em 1822, houve um esforço consciente de diversos grupos para definir o que seria genuinamente brasileiro, distinto da herança colonial portuguesa.

Este projeto de construção da identidade nacional passou por diferentes fases, cada uma delas propondo modelos distintos de brasilidade. No Romantismo, prevaleceu a idealização do indígena e da natureza tropical; no Realismo-Naturalismo, buscou-se retratar criticamente a sociedade brasileira em suas contradições; e no Modernismo, propôs-se uma síntese antropofágica das diversas influências culturais que formaram o Brasil.

A brasilidade romântica em “Iracema” de José de Alencar

Contexto histórico e literário

Publicado em 1865, “Iracema” integra o projeto literário de José de Alencar de criar uma literatura genuinamente brasileira. O Romantismo brasileiro, fortemente influenciado pelo nacionalismo, buscava romper com os modelos literários europeus e valorizar elementos locais como forma de afirmar a independência cultural do país.

Nesse período pós-independência política (1822), a literatura assumiu o papel de construir simbolicamente a nação brasileira, criando mitos fundadores e estabelecendo os contornos da identidade nacional. Alencar, consciente desse projeto, declarou em seus escritos teóricos a intenção de desenvolver uma literatura que fosse a expressão da nacionalidade brasileira.

A brasilidade em “Iracema”: análise e exemplos

Em “Iracema”, subtitulada “Lenda do Ceará”, Alencar constrói uma narrativa mítica sobre o encontro entre o colonizador português e o elemento nativo, representado pela indígena que dá nome à obra. A brasilidade se manifesta nos seguintes aspectos:

  1. Exaltação da natureza tropical

Alencar cria um cenário edênico, onde a natureza brasileira é apresentada em toda sua exuberância, como se pode observar neste trecho:

“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba; Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros.”

A natureza não é apenas cenário, mas personagem ativa da narrativa, intimamente ligada ao destino dos protagonistas e simbolizando a singularidade do espaço brasileiro.

  1. O indígena idealizado

Iracema, “a virgem dos lábios de mel”, é a representação idealizada do elemento nativo. Alencar a descreve como:

“Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.”

Essa idealização do indígena, transformando-o em símbolo de nobreza e pureza, reflete o projeto romântico de elevar o nativo à condição de ancestral mítico da nacionalidade brasileira, em contraposição ao colonizador europeu.

  1. O encontro cultural e a gênese da nação

A união de Iracema (indígena) com Martim (português) simboliza a gênese da nação brasileira, nascida do encontro entre culturas. O filho dessa união, Moacir, “o filho da dor”, representa o primeiro brasileiro, fruto da miscigenação. Como afirma o narrador:

“Havia aí a formosura dos campos, o sorriso dos céus, e essa saudade que chamamos Brasil.”

Embora seja uma visão idealizada que mascara os conflitos reais da colonização, essa narrativa mítica revela o esforço de Alencar em construir uma origem nobre para a identidade nacional.

  1. A linguagem indianista

Alencar incorpora termos indígenas e cria uma sintaxe que busca reproduzir o que ele imaginava ser a fala dos nativos, numa tentativa de nacionalizar a língua literária:

“Tupã quis que estes olhos vissem antes da morte o guerreiro branco, para que levem sua imagem à terra dos espíritos.”

Essa estratégia linguística, embora artificial, representa um esforço consciente de criar uma expressão literária brasileira, distinta da portuguesa.

Limitações da brasilidade romântica

É importante apontar que a brasilidade proposta por Alencar tem limitações significativas: idealiza o indígena ao passo que o submete à lógica do colonizador; ignora o elemento africano na formação da identidade nacional; e apresenta uma visão conciliatória do processo colonial, ocultando suas violências. Contudo, dentro do contexto do século XIX, representa um esforço pioneiro de definir literariamente o que seria o Brasil.

A brasilidade naturalista em “O Cortiço” de Aluísio Azevedo

Contexto histórico e literário

Publicado em 1890, “O Cortiço” de Aluísio Azevedo surge em um momento de transição no Brasil: o fim do Império e o início da República, a abolição da escravatura (1888) e a intensificação da urbanização. O Naturalismo, influenciado pelas teorias deterministas e positivistas da época, propõe uma análise quase científica da sociedade, contrapondo-se ao idealismo romântico.

Se o Romantismo buscou construir uma identidade nacional baseada em mitos fundadores e na exaltação de elementos nativos, o Naturalismo propôs uma investigação crítica da realidade brasileira, expondo contradições sociais, raciais e econômicas que compunham o verdadeiro Brasil do final do século XIX.

A brasilidade em “O Cortiço”: análise e exemplos

“O Cortiço” apresenta uma visão crua e desmistificadora da sociedade brasileira, focando nas camadas populares urbanas. A brasilidade aparece através dos seguintes aspectos:

  1. O Brasil como organismo social em formação

Azevedo retrata o cortiço – habitação coletiva popular – como microcosmo da sociedade brasileira, um organismo vivo em constante transformação:

“E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a brotar uma população, uma raça nova e strangulada, que parecia brotar espontaneamente daquela lameira, como larvas no esterco.”

O cortiço simboliza o Brasil em formação, com suas contradições, tensões raciais e de classe, onde diferentes grupos sociais convivem, competem e se misturam.

  1. Miscigenação e relações raciais

Ao contrário da visão idealizada do Romantismo sobre a miscigenação, Azevedo expõe as tensões raciais presentes na sociedade brasileira. Personagens como Bertoleza (negra escravizada) e Rita Baiana (mulata) revelam diferentes posições dentro da hierarquia social baseada em critérios raciais:

“Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo.”

Rita Baiana, com sua sensualidade e vitalidade, representa o elemento brasileiro que seduz e “corrompe” o português João Romão, simbolizando o poder de “abrasileiramento” do meio tropical sobre o europeu.

  1. Determinismo do meio tropical

O naturalismo de Azevedo apresenta o ambiente tropical como determinante na formação do caráter nacional. O calor, a umidade, a natureza exuberante são fatores que moldam comportamentos e definem o que é ser brasileiro:

“O português abrasileirou-se para sempre; fez-se preguiçoso, amigo das extravagâncias e dos abusos, luxurioso e ciumento; fora-se-lhe de vez o espírito da economia e da ordem.”

Esta visão determinista, embora problemática à luz das ciências sociais contemporâneas, expressa uma tentativa de compreender a brasilidade como produto do meio físico e social.

  1. A crítica social como elemento de identidade

Ao expor as contradições sociais brasileiras, Azevedo define a brasilidade não mais pelo que o Brasil deveria ser (como no Romantismo), mas pelo que ele efetivamente era: uma sociedade marcada por desigualdades, exploração e pela convivência entre modernidade e arcaísmo:

“João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre a Rua do Hospício e a do Núncio. Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda com mais ardor, possuindo-se de uma febre de enriquecer, de que conhecera poucos exemplos no Brasil.”

A trajetória de João Romão, que ascende socialmente à custa da exploração dos mais pobres e do roubo da companheira negra, simboliza um Brasil onde o progresso individual se faz à custa do coletivo, questionando a ideia de uma identidade nacional harmoniosa.

Contribuições e limitações da visão naturalista

A brasilidade proposta por Azevedo é mais complexa e problematizadora que a romântica. Ao expor as mazelas sociais e raciais do país, o autor contribui para uma visão crítica da identidade nacional. Contudo, ao adotar teorias deterministas europeias (como as de Taine e Zola), acaba reforçando certos estereótipos sobre o brasileiro como naturalmente sensual, indolente ou corrupto, sem considerar os fatores históricos e sociais que produziram essas condições.

A brasilidade modernista em “Macunaíma” de Mário de Andrade

Contexto histórico e literário

Publicado em 1928, “Macunaíma” surge no contexto da efervescência modernista brasileira, iniciada com a Semana de Arte Moderna de 1922. O Modernismo propôs uma reavaliação radical da identidade nacional, buscando incorporar elementos da vanguarda europeia ao mesmo tempo em que valorizava as raízes populares e folclóricas brasileiras.

O Brasil vivia então um momento de acelerada industrialização e urbanização, especialmente em São Paulo. As contradições entre o Brasil arcaico e rural e o Brasil moderno e urbano tornavam-se evidentes, provocando questionamentos sobre a verdadeira essência da brasilidade.

A brasilidade em “Macunaíma”: análise e exemplos

“Macunaíma, o herói sem nenhum caráter” representa uma síntese antropofágica das diversas influências culturais que formaram o Brasil. A brasilidade aparece através dos seguintes aspectos:

  1. A antropofagia cultural

Mário de Andrade incorpora à sua obra elementos de diversas fontes: mitos indígenas, folclore brasileiro, cultura africana e referências europeias. Em vez de negar as influências externas, propõe sua “deglutição crítica”, transformando-as em algo novo e autenticamente brasileiro:

“Macunaíma deu uma risada e falou: — Não frustra não! Sou brasileiro e meu lugar é a minha terra. Vou pra ilha de Marajó, vou ser o imperador do mato-virgem.”

Essa antropofagia cultural sugere que a identidade brasileira reside justamente na capacidade de absorver e transformar diferentes influências culturais.

  1. O herói sem caráter como símbolo nacional

O protagonista Macunaíma, descrito como “herói sem nenhum caráter”, não representa uma ausência de moral, mas a ausência de um caráter fixo, definido. Ele é mutável, contraditório e complexo, assim como o Brasil:

“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.”

Macunaíma nasce negro, filho de uma indígena, e depois se transforma em branco – uma metáfora da miscigenação brasileira. Sua natureza contraditória (preguiçoso mas esperto, ingênuo mas malicioso) representa a complexidade da identidade nacional.

  1. A linguagem como expressão da brasilidade

Mário de Andrade cria uma linguagem literária que mistura vocabulário indígena, expressões regionais, sintaxe coloquial e neologismos, buscando captar a riqueza e diversidade linguística brasileira:

“Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que nem a marca dum pé gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira.”

Essa valorização da oralidade e do português brasileiro, rompendo com o purismo linguístico, representa uma afirmação da independência cultural do país.

  1. A crítica ao Brasil dividido

“Macunaíma” expõe as contradições do Brasil, dividido entre tradição e modernidade, entre rural e urbano. O deslocamento do herói da floresta amazônica para São Paulo simboliza o choque entre diferentes temporalidades e espacialidades brasileiras:

“Estava tão contrariado por causa da máquina devoradora dos homens ali na cidade… Macunaíma queria ser imperador daquela terra imperialista e não podia.”

A máquina, símbolo da modernidade industrial, aparece como elemento estrangeiro e devorador, contrastando com a natureza brasileira representada pela muiraquitã (amuleto indígena) que o herói busca recuperar.

A síntese modernista da brasilidade

O Modernismo de Mário de Andrade propõe uma visão de brasilidade mais complexa e inclusiva que as anteriores. Ao invés de idealizar (como o Romantismo) ou condenar (como o Naturalismo) certos aspectos da cultura brasileira, o Modernismo propõe sua aceitação crítica, reconhecendo contradições e ambiguidades como parte constitutiva da identidade nacional.

“Macunaíma” sugere que a essência da brasilidade não está em um único elemento ou característica, mas na própria diversidade, na capacidade de síntese e adaptação. Como afirma o próprio protagonista em seu bordão recorrente: “Ai, que preguiça!”, expressando simultaneamente a indolência tropical criticada pelos deterministas e a resistência inteligente à lógica do trabalho capitalista.

Evolução do conceito de brasilidade: Uma análise comparativa

Da idealização à crítica antropofágica

Analisando as três obras, podemos traçar uma evolução do conceito de brasilidade na literatura brasileira:

  1. Romantismo (Iracema): Propõe uma brasilidade baseada na idealização do passado, na exaltação da natureza e na mitificação do indígena como ancestral nobre. É um projeto fundamentalmente afirmativo, que busca construir uma imagem positiva da nação recém-independente.
  2. Naturalismo (O Cortiço): Apresenta uma brasilidade crítica, expondo as contradições sociais e raciais do país. Abandona a idealização em favor de uma análise quase científica da realidade, mas ainda influenciada por teorias deterministas europeias que frequentemente patologizavam aspectos da cultura brasileira.
  3. Modernismo (Macunaíma): Desenvolve uma brasilidade antropofágica, que incorpora criticamente influências diversas. Reconhece contradições como parte constitutiva da identidade nacional e valoriza a diversidade cultural. É simultaneamente afirmativo e crítico, buscando “digerir” tanto o legado colonial quanto as vanguardas contemporâneas.

Permanências e transformações

Alguns elementos da brasilidade permanecem ao longo dos três períodos, embora recebam tratamentos distintos:

  1. A natureza tropical: Vai da exaltação romântica ao determinismo naturalista, até chegar à visão modernista que a integra como elemento constitutivo da cultura.
  2. A miscigenação: Passa da idealização mítica em Alencar à análise crítica em Azevedo, culminando na síntese antropofágica de Andrade.
  3. A língua como expressão nacional: Evolui da incorporação de termos indígenas em Alencar à reprodução da fala popular em Azevedo, até a criação de uma linguagem literária genuinamente brasileira em Andrade.
  4. A relação com a herança europeia: Vai da tentativa romântica de ruptura à crítica naturalista da influência estrangeira, culminando na “deglutição crítica” modernista.

Conclusão

A brasilidade, como pudemos observar, não é um conceito estático, mas uma construção histórica e cultural em permanente transformação. Do Romantismo ao Modernismo, a literatura brasileira tem sido um campo privilegiado para a elaboração e discussão da identidade nacional, refletindo as mudanças sociais, políticas e culturais do país.

“Iracema”, “O Cortiço” e “Macunaíma” representam três momentos fundamentais dessa trajetória: a busca romântica por uma origem mítica; a análise naturalista das contradições sociais; e a síntese modernista que incorpora e transforma as influências diversas que formaram o Brasil.

O estudo dessas obras nos permite compreender não apenas a evolução do conceito de brasilidade na literatura, mas também os diferentes projetos de nação que foram propostos ao longo da história brasileira. Se hoje podemos falar de uma identidade nacional plural e diversa, é porque reconhecemos que a brasilidade não se define por um único elemento ou característica, mas pela própria capacidade de incorporar e transformar influências múltiplas.

Como sugere “Macunaíma”, talvez o mais autenticamente brasileiro seja justamente a ausência de um caráter fixo e imutável – uma identidade em permanente construção, aberta às transformações do tempo e às contribuições de diferentes culturas. Uma brasilidade que, como nossos grandes autores, sabe antropofagicamente devorar influências diversas para criar algo novo e singular.



FAQ – Perguntas Frequentes

1. O que é brasilidade e como esse conceito surgiu na literatura brasileira?

Brasilidade é o conjunto de características culturais, sociais e simbólicas que definem a identidade nacional brasileira. Na literatura, surgiu como projeto consciente após a independência política (1822), quando autores brasileiros buscavam criar uma expressão artística autenticamente nacional, distinta da portuguesa. O Romantismo iniciou esse processo com obras como “Iracema”, buscando elementos nativos que pudessem representar a singularidade brasileira.

2. Como José de Alencar representou a brasilidade em “Iracema”?

Alencar representou a brasilidade através da exaltação da natureza tropical, da idealização do indígena como ancestral nobre da nacionalidade, da narrativa mítica sobre o encontro entre portugueses e nativos, e da incorporação de termos indígenas à língua portuguesa. Em “Iracema”, a protagonista indígena e sua união com o português Martim simbolizam a gênese da nação brasileira, nascida da miscigenação.

3. Quais as principais diferenças entre a brasilidade romântica de “Iracema” e a naturalista de “O Cortiço”?

Enquanto a brasilidade romântica idealizava o passado e criava mitos fundadores (como o “bom selvagem”), a naturalista expunha criticamente as contradições sociais do Brasil. Em “Iracema”, a miscigenação é retratada como origem nobre da nação; em “O Cortiço”, as relações raciais aparecem permeadas por hierarquias e conflitos. O Romantismo exaltava a natureza tropical; o Naturalismo a via como fator determinante (muitas vezes negativo) na formação do caráter nacional.

4. Por que Macunaíma é considerado um símbolo da brasilidade modernista?

Macunaíma representa a brasilidade modernista por sua natureza contraditória e mutável – nasce negro e se torna branco, é preguiçoso mas esperto, ingênuo mas malicioso. Essas contradições simbolizam a complexidade da identidade brasileira, formada por influências diversas. Além disso, o romance utiliza uma linguagem que incorpora expressões regionais e indígenas, valoriza o folclore nacional e propõe uma antropofagia cultural – a capacidade brasileira de absorver e transformar influências externas.

5. Como a representação da natureza brasileira evolui nas três obras analisadas?

Em “Iracema”, a natureza é idealizada e exaltada como símbolo da singularidade brasileira, quase um paraíso edênico. Em “O Cortiço”, é vista sob o prisma determinista como fator que influencia negativamente o comportamento humano, gerando indolência e sensualidade excessiva. Em “Macunaíma”, a natureza torna-se espaço de criação mítica e integra-se à cultura, estabelecendo contraste com a mecanização urbana representada por São Paulo.

6. Qual a importância do estudo da brasilidade na literatura para a compreensão da identidade nacional hoje?

O estudo da brasilidade na literatura nos ajuda a compreender como a identidade nacional foi historicamente construída através de diferentes projetos intelectuais e artísticos. Reconhecer essa construção nos permite desenvolver um olhar crítico sobre discursos essencialistas ou reducionistas do que significa “ser brasileiro”. As obras analisadas mostram que a brasilidade nunca foi um conceito estático, mas sempre esteve em processo de elaboração e transformação, refletindo as mudanças sociais, políticas e culturais do país. Isso nos convida a pensar a identidade nacional contemporânea de forma mais plural e inclusiva.

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