“Eternidade por um Fio” (Edge of Eternity) é o terceiro e último volume da aclamada trilogia “O Século” de Ken Follett. Publicado em 2014, o romance dá continuidade à saga épica que acompanha cinco famílias interligadas – americana, alemã, russa, inglesa e galesa – ao longo dos eventos históricos mais significativos do século XX. Este último livro concentra-se no período entre 1961 e 1989, abrangendo a Guerra Fria, o Movimento dos Direitos Civis nos EUA, a construção do Muro de Berlim, a crise dos mísseis em Cuba, a Guerra do Vietnã, o escândalo de Watergate, até a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética.
Após as duas Guerras Mundiais retratadas nos volumes anteriores, o mundo encontra-se dividido em dois blocos ideológicos antagônicos: o Ocidente capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o Leste comunista, comandado pela União Soviética. Esta polarização, conhecida como Guerra Fria, serve como pano de fundo para as vidas das gerações mais recentes das famílias protagonistas, agora enfrentando desafios como o racismo institucionalizado, a ameaça nuclear, a revolução sexual e cultural dos anos 60 e 70, e as lutas por liberdade por trás da Cortina de Ferro.
A narrativa segue os descendentes das famílias introduzidas nos livros anteriores:
Família Williams (Gales):
Família Peshkov-Dvorkina (Rússia/EUA):
Família Dewars (EUA):
Família Leckwith-Williams (Inglaterra):
Família Franck (Alemanha):
George Jakes ingressa no Departamento de Justiça sob Robert Kennedy, juntando-se à luta pela igualdade racial. Ele testemunha eventos cruciais como a Marcha em Washington de 1963, o assassinato de Martin Luther King Jr. e o tumultuado período das revoltas urbanas. Sua relação com Verena, uma voluntária dos direitos civis, reflete as complexidades das relações interraciais neste período de transformação social.
Paralelamente, os irmãos Cameron e Ursula Dewar representam os dois lados do espectro político americano: Cameron trabalha secretamente para a CIA em operações anticomunistas, enquanto Ursula abraça o progressismo e o jornalismo investigativo, eventualmente desempenhando um papel na exposição do escândalo de Watergate.
Em Berlim Oriental, Rebecca Hoffmann descobre que seu marido, Hans, é um informante da Stasi (polícia secreta da Alemanha Oriental) e que espionava cada aspecto de sua vida. Esta revelação devastadora a coloca em rota de colisão com o regime comunista. Após um confronto com Hans, ela é presa e posteriormente liberada, mas permanece sob vigilância constante.
Walli Franck, apaixonado por música ocidental e desiludido com o comunismo, planeja uma fuga perigosa para o Ocidente logo após a construção do Muro de Berlim em 1961. Sua fuga dramática o separa de sua amada Karolin, que está grávida. No Ocidente, ele desenvolve uma carreira como músico de rock, enquanto continua obcecado em reunir-se com seu filho que nunca conheceu.
Os irmãos Dvorkin representam as contradições do sistema soviético. Dimka, inicialmente um leal funcionário do Partido que trabalha com Nikita Khrushchev, testemunha as intrigas do Kremlin, a crise dos mísseis em Cuba e as tentativas frustradas de reforma. Gradualmente, ele começa a questionar o sistema que serve.
Sua irmã Tania, mais idealista, torna-se uma jornalista que se arrisca para reportar verdades inconvenientes sobre a sociedade soviética. Seu casamento com um músico dissidente a coloca cada vez mais em conflito com as autoridades. Através de seu trabalho jornalístico, ela documenta a lenta deterioração do sistema soviético, culminando com as reformas de Gorbachev e a eventual queda do comunismo.
Uma linha narrativa central do livro envolve a revolução musical dos anos 60, com Davy Williams e Walli Franck formando bandas inspiradas nos Beatles. A música serve como metáfora para as mudanças culturais e políticas da época, transcendendo fronteiras ideológicas e unindo jovens de ambos os lados da Cortina de Ferro. Os concertos de rock, tanto nos EUA quanto clandestinamente no Leste Europeu, tornam-se símbolos da resistência juvenil contra o establishment.
O romance atinge seu ápice com os eventos revolucionários de 1989, quando o sistema comunista na Europa Oriental começa a desmoronar. As manifestações pacíficas em Leipzig e outras cidades da Alemanha Oriental, nas quais Rebecca Hoffmann desempenha um papel, levam à abertura das fronteiras e ao colapso do Muro de Berlim.
Em uma cena emocionante, Walli finalmente consegue reunir-se com seu filho já adulto, enquanto famílias separadas por décadas de divisão ideológica se reencontram. Tania Dvorkina está presente como jornalista para documentar o momento histórico, enquanto seu irmão Dimka observa, com sentimentos mistos, o fim do sistema ao qual dedicou sua vida.
Como nos volumes anteriores, Follett entrelaça habilmente histórias pessoais ficcionais com eventos históricos documentados. A narrativa alterna entre diferentes personagens e locais, criando um panorama global da época. Figuras históricas reais como John F. Kennedy, Martin Luther King Jr., Nikita Khrushchev e Mikhail Gorbachev aparecem como personagens secundários, interagindo com os protagonistas fictícios em momentos decisivos.
A precisão histórica é uma marca registrada do autor, com detalhes minuciosos sobre a vida cotidiana em diferentes sociedades, desde a música que as pessoas ouviam até os desafios diários de viver sob regimes totalitários ou em meio a transformações sociais turbulentas.
“Eternidade por um Fio” encerra a trilogia “O Século” mostrando como as esperanças e sacrifícios das gerações anteriores culminaram nas transformações históricas do final do século XX. A queda do Muro de Berlim simboliza não apenas o fim da Guerra Fria, mas também a realização de sonhos de liberdade que motivaram personagens ao longo dos três livros.
O romance termina com uma nota de esperança cautelosa para o futuro, reconhecendo tanto o progresso alcançado quanto os desafios remanescentes. As novas gerações das famílias protagonistas se preparam para entrar no século XXI, carregando as lições e memórias de um século transformador.
Através desta obra monumental de mais de 1.000 páginas, Follett oferece uma meditação sobre como eventos históricos grandiosos afetam vidas individuais e, reciprocamente, como indivíduos comuns podem, através de sua coragem e convicções, moldar o curso da história. “Eternidade por um Fio” celebra o triunfo final da liberdade sobre a opressão, enquanto reconhece o custo humano desse longo e difícil caminho.
A trilogia completa – “Queda de Gigantes“, “Inverno do Mundo” e “Eternidade por um Fio” – representa uma das mais ambiciosas tentativas na literatura contemporânea de capturar a complexidade e o drama do turbulento século XX em uma narrativa coesa e envolvente.
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